Exumacao

Luto e Exumação

Honrando memórias: o desafio da exumação no processo do luto.

Os recentes estudos do luto têm se ocupado em compreender a dor psíquica provocada pela perda de uma pessoa amada. 

Sabemos que o luto é um processo longo e gradual, no qual o grande trabalho é aprender a viver sem a pessoa que morreu, ressignificando essa nova existência em que a pessoa física não mora mais do lado de fora, mas passa a existir do lado de dentro, em forma de memória, homenagem e legado deixado.

A relevância da exumação no processo do luto.

O luto é uma reação natural e universal à perda de alguém significativo. Embora seja uma experiência comum, é um fenômeno pessoal e individual, vivido de maneiras distintas por cada pessoa. 

As emoções intensas e complexas que surgem durante o processo de luto podem incluir tristeza profunda, desespero, choque, raiva, culpa e até mesmo alívio

É uma jornada dolorosa, na qual enfrentamos a inevitabilidade da morte e somos obrigados a lidar com uma ausência que parece insuperável. Conforme explicamos em outro artigo sobre o tema, a exumação é o ato de desenterrar. 

Consiste na retirada dos restos mortais do túmulo ou sepultura para fins diversos. Pode ocorrer por razões legais, como parte de investigações criminais, ou por motivos práticos, como liberar espaço nos jazigos e mausoléus de cemitérios.

Além disso, em alguns casos, as famílias podem optar pela exumação para transferir os restos mortais para outro local ou para realizar um ritual específico, como a cremação de ossos.

A pandemia e os desafios adicionais no processo do luto e da exumação.

No contexto da pandemia de COVID-19, o tema da exumação ganhou relevância, uma vez que muitas famílias enfrentaram a perda repentina de entes queridos e não puderam realizar os rituais tradicionais de despedida. 

A pandemia trouxe à tona desafios inimagináveis para a sociedade, restringindo a interação física, fechando fronteiras e impondo medidas de distanciamento social para conter a propagação do vírus. 

As medidas de prevenção, embora necessárias, tiveram impactos devastadores nas vidas das pessoas, especialmente naquelas que perderam seus entes queridos para a doença.

O processo do luto em tempos de pandemia foi intensificado pelas restrições impostas à realização de cerimônias fúnebres. 

Os rituais de velório, a proximidade no leito de morte e os abraços de consolo entre amigos e familiares foram brutalmente suprimidos por conta das recomendações sanitárias da Organização Mundial da Saúde (OMS)medidas dos governos de diferentes países. Familiares tiveram que enfrentar a dor da perda sem a oportunidade de se despedir adequadamente, gerando complicações emocionais e psicológicas.

Os impactos emocionais no luto e na exumação.

Essa situação trouxe à tona uma série de questões complexas relacionadas ao lutoà exumação. O processo de exumação, que já é naturalmente delicado, se tornou ainda mais desafiador, pois reacende memórias e emoções vividas com a pessoa falecida. 

As famílias que passam por esse momento enfrentam uma série de emoções contraditórias: saudades da pessoa amada, raiva da situação, negação da perda e inconformismo com a realidade.

Decisões sobre como fazer a exumação.

Neste contexto, é essencial que as famílias enlutadas tenham acesso a suporte emocional e psicológico adequado. Grupos de apoio ao luto, como os oferecidos no Memorial Parque das Cerejeiras, podem ser de grande ajuda para auxiliar os enlutados a lidar com seus sentimentos e encontrar meios saudáveis de enfrentar o processo de exumação.

Ao enfrentar a possibilidade de uma exumação, é crucial que a família possa tomar decisões conscientes e informadas. Algumas orientações e cuidados podem ser discutidos previamente para tornar esse momento menos doloroso:

1. A presença no ritual de exumação não é obrigatória, e muitas famílias podem preferir não estar presentes, optando por prestar homenagens de outras formas significativas.

2. Além disso, é essencial que as instituições que realizam a exumação forneçam todo o apoio necessário e respeitem as decisões da família. Instruções claras sobre como proceder durante o ritual de exumação, como manter distância, também são fundamentais para garantir a segurança física e emocional dos envolvidos.

3. Outro aspecto relevante é a elaboração de rituais significativos para honrar a memória do ente querido durante o processo de exumação. Esses rituais podem variar de acordo com as crenças e preferências da família, mas são essenciais para trazer conforto e paz durante esse momento difícil.

4. Após a exumação, a família pode optar por realizar uma nova cerimônia de despedida. Os restos mortais podem ser reinumados (sepultados novamente) no mesmo jazigo, ou levados a outro local, como um ossuário. Ou, ainda, existe a opção de cremação de ossos. Cada família deve seguir o caminho que melhor se adeque às suas necessidades emocionais, crenças e conveniências.

5. Independentemente da escolha, é importante que os enlutados estejam preparados para revisitar seu processo de luto, pois sentimentos de tristeza e saudade poderão emergir novamente.

A importância do suporte emocional durante a exumação.

Em conclusão, a exumação representa um capítulo doloroso e complexo no processo do luto. É fundamental que sejam oferecidos suporte emocional e psicológico adequado, bem como espaços de acolhimento para aqueles que enfrentam esse desafio. 

A busca por grupos de apoio ao luto e profissionais de saúde mental pode ser de grande auxílio para ajudar os enlutados a encontrar formas significativas de honrar e lembrar seus entes queridos, e assim, gradualmente, enfrentar a dor da perda e seguir em frente com a vida.

O momento que vivemos durante a pandemia da COVID-19 também nos ensinou a valorizar ainda mais a importância de expressar nosso luto e celebrar a vida daqueles que partiram, mesmo em meio a adversidades. 

A exumação, embora uma etapa delicada, pode ser um momento de reflexão e ressignificação das memórias, proporcionando aos familiares a oportunidade de encontrar conforto e paz ao enfrentar suas emoções contraditórias. 

Por meio do apoio mútuo e da compreensão, poderemos caminhar lado a lado com aqueles que enfrentam a jornada do luto, honrando suas memórias e fortalecendo o vínculo entre as pessoas, mesmo diante dos desafios inesperados que a vida nos apresenta.

Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Cerejeiras

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Marcas Eternas: refletindo sobre o legado e o impacto do digital na Era da Memória Virtual.

Não fomos educados para conviver com a morte, e mesmo tendo consciência de que ela faz parte do ciclo da vida, tentamos ignorá-la ou até mesmo fugir de tudo que possa lembrá-la. 

Há um movimento da nossa cultura de interditar e desqualificar qualquer fala e pensamento sobre morte e morrer. No entanto, sabemos que a morte faz parte do desenvolvimento humano e precisamos compreendê-la melhor.

Para refletir sobre o legado da vida e além.

Gostaríamos de deixar algumas reflexões, que para muitos podem parecer fora de propósito ou inoportunas, mas que para nós que lidamos com as famílias enlutadas fazem uma significativa diferença.

1 - Você já pensou em que gostaria de deixar como marca de sua vida?

2 - O que você gostaria que escrevessem em sua lápide?

3 - Por quais histórias, feitos e memória gostaria de ser lembrado?

4 - Seus amigos e familiares sabem do que você gosta? Se morresse hoje, como gostaria que fosse sua cerimônia e sepultamento?

5 - Gostaria de ser sepultado ou cremado? Já disse isso para alguém?

6 - Quais objetos que lhe são caros e de valor sentimental, você deixaria? Já pensou para quem gostaria de deixar?

7 - E seu patrimônio digital, plataformas como Instagram, Facebook, Twitter, LinkedIn,

TikTok, WhatsApp, quem deixaria como administrador? Que destino gostaria de dar a eles?

Teríamos muitas outras questões para levantar, mas para você que chegou até aqui, ficam as perguntas para responder individualmente e em seu tempo. 

Só se lembrem que a vida é um intervalo entre duas datas: o seu nascimento e sua morte. O tema morte nos convida à reflexão sobre a vida e sobre o que temos feito com ela. 

Ter consciência da nossa finitude e impermanência nessa vida é o que nos permite compreender o verdadeiro significado da vida. O que queremos é poder ajudá-lo quando você não estiver mais aqui fisicamente. Por isso, falamos nesse texto de legado.

Legado de vida: permanecendo vivo nas memórias afetivas.

Legado significa herança de cunho mais sentimental do que material, transmissão, patrimônio, testamento, o que é transmitido a outro, o que fica como lembrança, ou seja: uma vida que faça sentido, que tenha um significado e que possua uma direção.

Deveríamos ser lembrados pelas coisas que fizemos, de que gostávamos e até pelas coisas de que não gostávamos. Legado é aquilo que traduz quem foi a pessoa, como ela viveu e como ela gostaria de ser lembrada. 

Dito de outra forma: legado é aquilo que se transmite dentro do coração de alguém. Por isso, ele é atemporal. Por isso, ele é a presença viva da ausência, é tudo aquilo que permanece e resiste ao tempo. 

Um legado não precisa ser exuberante, ele só precisa representar quem nós fomos para as gerações que virão. Desta forma, estaremos eternamente vivos. 

Mas precisamos "em vida" deixar isso transparente: não como marca de mortalidade, ao contrário, como marca de imortalidade.

Quando falamos de Airton Senna, somos automaticamente impulsionados a pensar na genialidade de sua carreira e na humildade de sua pessoa. Quando falamos de Gal Costa, ouvimos a sonoridade de sua voz. 

Esses feitos são heranças que ambos deixaram por toda a vida e que não se apagarão jamais. Embora não sendo famosos, deixamos sempre legados

Um apelido, uma comida de que gostávamos, um filme, uma expressão falada repetidas vezes, uma mania, enfim, seremos lembrados por algum feito. 

Ana Bacalhau, cantora portuguesa, traz o seguinte refrão que define bem o que é legado: "Quem era, como era. Somos só memória à espera de não sermos esquecidos."

Separe fotos, bilhetes, senhas de banco, documentos importantes e o que considerar relevante e armazene em uma caixa e avise alguém da existência dela. 

Além de ajudar sua família em um momento difícil, você já estará contando do seu amor por eles.

Legado digital: preservando memórias e heranças virtuais.

Muitos estudos e pesquisas vêm sendo realizados nos últimos tempos acerca do legado digital, ou seja, com o advento da internet, mídias sociais e mensagens eletrônicas, a grande preocupação é como proteger, armazenar ou apagar esse acervo de informações que é patrimônio sentimental e pessoal da pessoa falecida e da família. 

Nazaré P. Jacobucci* realizou um longo trabalho de pesquisa sobre plataformas digitais como Instagram, Twitter, Tik Tok, WhatsApp. 

A discussão gira em torno das implicações éticas sobre o destino desse legado digital. Segundo ela, essa é uma polêmica discussão e pode gerar muitos conflitos familiares. 

O sujeito da pós-modernidade está vivendo alguns dilemas, como por exemplo: que destino dar aos seus ativos digitais?

A literatura apresenta 4 opções diferentes de acordo com as intenções do sujeito ao seu legado digital, ou por alguém responsável para tal tarefa. São elas:

1 - Fechar as contas.

2 - Transformar em um memorial.

3 - Transferir as contas para outra pessoa.

4 - Ignorar.

Em outro artigo de blog publicado pelo Cerejeiras, intitulado “Luto nas redes sociais –Devo manter ou deletar o perfil do falecido?”, vários aspectos de como lidar com o luto nas redes sociais são abordados de forma prática, inclusive nas mídias sociais mais populares, como Facebook e Instagram.

Por fim e não menos importante, temos a exposição por terceiros de imagens não autorizadas pela família. 

Nazaré P. Jacobucci* discute em sua pesquisa sobre o quão complexo e delicado pode ser expor a imagem ou o motivo da morte de alguém em sua mídia social, especialmente se você não é um familiar próximo da pessoa que morreu. 

Essa atitude de compartilhar a morte em plataformas virtuais pode acarretar agravos no processo de luto do familiar que perdeu um ente querido. 

É desse lugar de memórias e histórias que eternizamos nossos amores, justificando inclusive nossa saudade que tem nome e sobrenome.

Construindo um legado para a eternidade.

Refletir sobre a morte e o legado que deixamos é um exercício essencial para dar sentido à vida e compreender nossa finitude. 

Enquanto a sociedade muitas vezes evita o assunto, enfrentá-lo nos permite compreender a importância de viver plenamente e construir um legado que reflita nossos valores e essência.

O legado vai além do material, é o que permanece no coração das pessoas, as lembranças, histórias e afetos que deixamos. 

É importante pensar sobre como gostaríamos de ser lembrados e como podemos impactar positivamente a vida daqueles que nos cercam.

O mundo digital trouxe novos desafios para preservar esse legado, e é fundamental refletir sobre o destino de nossos ativos digitais

A conscientização sobre a exposição das informações pessoais após a morte é crucial para evitar conflitos e preservar a memória do ente querido.

Ao encarar a temática do legado de forma aberta e responsável, podemos construir uma jornada significativa e perene, que transcende o tempo e nos mantém vivos nas lembranças e corações daqueles que tocamos com nossa existência. 

Afinal, o que verdadeiramente importa é o impacto que causamos na vida das pessoas e o amor que deixamos como herança duradoura.


Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Cerejeiras

* Jacobucci. A.N.P, Legado digital: conhecimento, decisão e significado – viver, morrer e enlutar-se na era digital. Ed Appris/2023.

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