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Luto por suicídio

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Caminhando juntos na jornada do luto por suicídio: prevenção, cura e esperança

“O suicídio é uma solução permanente para um

problema temporário” (E. Shneidman)

A morte sempre será um enigma para nós, seres humanos; contudo, somos os únicos animais que têm consciência desse fenômeno. Cada morte tem um impacto de longo alcance em famílias, amigos e na comunidade. 

Quando a morte chega em uma família abalando os laços de amor e os vínculos com o falecido, começa a difícil jornada que se chama processo de luto, que se configura de forma individual, sem tempo definido e cujas tarefas de enfrentamento serão únicas para cada sobrevivente. 

Se uma morte natural produz dores físicas e psicológicas, uma morte por suicídio, onde a pessoa decide de forma individual e solitária interromper sua própria vida, pode ser devastadora. O suicídio pode ser considerado o tipo de morte prolongada, dolorida e difícil de lidar para os familiares e amigos do falecido. 

Embora esse assunto ainda seja tabu para a maioria das pessoas, precisamos refletir sobre esse fenômeno de forma a aumentar o acesso e a informação sobre a prevenção do comportamento suicida e o trabalho de “posvenção” (assistência às pessoas impactadas pelo suicídio) que a família precisa.

Suicídio: números e fatores de risco.

Segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde – OMS, a cada 40 segundos alguém tira a própria vida. 

Outro relatório da OMS aponta que suicídio é a quarta principal causa de morte em jovens de 15 a 29 anos. Foram mais de 700 mil ocorrências no mundo em 2019, 14.540 das quais no Brasil.

Acreditamos que falar de suicídio é uma conversa difícil, mas necessária. Dúvidas infindáveis atravessam as famílias que buscam respostas que jamais terão, pois se foram com o falecido. 

Sentimentos de culpa disparam nos amigos e familiares, e a famosa doença do “se” instala-se: “se eu tivesse ligado…”, “se eu tivesse perguntado…”.

Vêm à tona sentimentos ambíguos, um misto de inconformismo, dor e raiva. É comum ouvir depoimentos dos sobreviventes de que a sensação é de um tornado que passou levando tudo e deixando um vazio enorme. 

É preciso compreender que a pessoa não se matou por causa de algo que eventualmente tenha feito, falado ou deixado de fazer. É sabido hoje que o suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial

Diversas circunstâncias podem estar relacionadas a esse comportamento. A depressão costuma estar presente em muitos casos, mas não é o único fator de risco.

Sinais de alerta e prevenção do suicídio.

Precisamos aprender a olhar e a identificar os sinais de alerta e orientar em como buscar ajuda e apoiar quem está com pensamentos suicidas.  

As estatísticas apontam para um aumento considerável do suicídio desde a pandemia, que potencializou o isolamento das pessoas, a ansiedade galopante e sintomas de depressão.

A importância da educação pública sobre o tema.

A educação pública sobre o tema do suicídio desempenha um papel fundamental na prevenção. É essencial que a sociedade como um todo seja informada e conscientizada sobre os riscos, sinais de alerta e as formas de buscar ajuda. 

Campanhas de conscientização, programas educacionais nas escolas e divulgação de recursos de suporte podem ser instrumentos poderosos para disseminar informações vitais e reduzir o estigma em torno do suicídio.

A Importância da comunicação aberta: como podemos ajudar a prevenir o suicídio?

Caso você esteja perto de alguém que pensa em suicídio ou exista esta suspeita, não deixe de conversar com essa pessoa sobre o tema. Evite julgamentos. Essa atitude em nada pode ajudar, ao contrário, coloca mais angústia e reforça os pensamentos suicidas. Observe mais detalhadamente a fala e os comportamentos dessa pessoa.

Alguns indícios podem ajudar a identificar que uma pessoa está pedindo ajuda: ela pode estar dizendo que é um peso para todos e que não aguenta mais. Pode estar dizendo que se sente sozinha e sem esperança no futuro, que a vida está ruim e que está pensando coisas ruins. 

É possível também observar alterações de humor e de comportamento, como queda de produtividade no estudo ou no trabalho, afastamento social, sinais de depressão e tristeza profunda. Esses são alguns dos sinais de um comportamento e pensamentos de um suicida.

Diante disso, seja empático e acolhedor, e proponha ajuda profissional e/ou diga “você não está sozinho, pois estou aqui com você”, “se quiser companhia para realizar alguma tarefa, me avise” e “pensaremos juntos em como solucionar os seus problemas”. 

Autocuidado durante o luto por suicídio: como podemos ajudar os sobreviventes enlutados?

O sobrevivente enlutado por suicídio é um termo que tem sido usado para se referir às pessoas que estão em processo de luto. O trabalho de “posvenção” está voltado a ações para o acolhimento e suporte aos familiares e amigos que foram impactados por um suicídio.

O luto por suicídio é diferente e pode ser prolongado. Se você está vivendo isso, é preciso ter atenção a alguns pontos:

 1. Não sinta culpa pelo que aconteceu, pelo porquê, se podia ter impedido, se podia ter percebido antes do ato,…. Essa culpa só causa angústia e sofrimento. Você não tem o controle da vida do outro.

2. Busque ajuda profissional onde não haverá julgamento, e você poderá desabafar, falar de suas dores, de suas emoções.

3. Busque compartilhar sua experiência com outros sobreviventes, cuidadores e com todos que buscam a ampliação do conhecimento

acerca do suicídio e do luto por suicídio.

4. Não exija ser a mesma pessoa de antes: há uma maneira de se viver antes do suicídio e outra depois dele.

5. Busque amigos que possam te ouvir sem críticas. O sofrimento tamponado provoca um efeito “panela de pressão”.

6. Não se veja julgado pelo olho do outro.

7. Se você sente que está em uma canoa com um remo só, lembre-se de que ainda existe a possibilidade de chegar na outra margem do rio.

8. Busque grupos de enlutados por suicídio, onde você poderá compartilhar suas angústias e encontrar alguns caminhos para prosseguir nessa jornada tão difícil.

A jornada de cura e resiliência.

A jornada de cura e resiliência para aqueles que enfrentam o luto por suicídio é uma caminhada desafiadora, mas possível. 

À medida que o tempo passa, a dor intensa pode diminuir, e os sobreviventes podem encontrar maneiras de lidar com suas perdas. A busca por apoio profissional, como terapia ou grupos de apoio, pode ser um passo crucial nessa jornada. 

Além disso, desenvolver a resiliência emocional é essencial. Isso envolve a capacidade de enfrentar adversidades, adaptar-se e, eventualmente, encontrar significado e esperança na vida após a perda.

Esperança e apoio aos enlutados.

Em última análise, enfrentar o luto por suicídio é uma experiência devastadoramas é importante lembrar que a esperança não está perdida. 

A prevenção do suicídio começa com a conscientização, a comunicação aberta e o apoio às pessoas em necessidade. Para os sobreviventes, a jornada de cura é possível com o tempo, apoio emocional e o comprometimento com o autocuidado.

Nossa responsabilidade como sociedade é criar um ambiente em que as pessoas se sintam à vontade para pedir ajuda e falar sobre suas lutas emocionais sem medo de julgamento. A educação pública sobre o suicídio é um passo crucial nessa direção. 

Com compreensão, apoio e esforços contínuos, podemos trabalhar juntos para reduzir o impacto do suicídio em nossas comunidades e oferecer uma mensagem de esperança para aqueles que precisam. 

A prevenção do suicídio e o apoio aos enlutados são esforços que podem salvar vidas e restaurar a esperança em tempos de escuridão. Existem centros de atendimento gratuito de acolhimento, como o Instituto Vita Alere.

O CVV – Centro de Valorização da Vida (fone:188) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas.

 

Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Cerejeiras. 

Rodrigo Rodrigues

Psicólogo formado pela USP - São Paulo, especializado em atendimento de suporte a pessoas em luto.

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