Luto e conflitos familiares

Conflitos familiares são muito comuns durante o luto. Estudos sobre luto nos mostram que, para cada falecimento, há no mínimo de 7 a 10 pessoas em luto. Em geral, o núcleo familiar é o mais atingido pelos efeitos do luto, e mesmo que cada membro viva o luto à sua maneira, teremos sempre uma família ferida precisando tomar decisões difíceis. A combinação de pessoas emocionalmente feridas e decisões difíceis costuma ser geradora de conflitos familiares após a morte de alguém.

Mesmo sabendo que não temos o total controle sobre nossa vida e sobre a vida daqueles que amamos, nunca estaremos preparados para lidar com a finitude. Conhecer os processos da morte e do morrer, como parte do ciclo da vida, em nada nos prepara ou aquece nossos corações quando este episódio acontece. Estaremos sempre despreparados, sem malas prontas para o novo caminho a seguir depois da morte de alguém que amamos.

Efeitos do luto no núcleo familiar.

Os profissionais que lidam com famílias em luto observam que a vivência do luto em família exigirá o esforço de cada um em busca da reorganização e readaptação à nova vida. Seria de se esperar que a família fosse naturalmente se unir após um evento que afeta a todos e provoca tanto sofrimento, mas a verdade é que nem sempre isso acontece. Às vezes a dor do luto pode abrir feridas que estavam guardadas, pode provocar ressentimentos e culpas que geram brigas e acusações, abalando a harmonia familiar e, em casos mais graves, a ruptura de laços afetivos. 

Vários fatores podem ser responsáveis pela desagregação da família como um todo, ou pela ruptura entre alguns de seus membros. Confira os gatilhos mais comuns que costumam

Decisões sobre o final da vida:

Os conflitos podem começar antes do falecimento, quando a família precisa tomar decisões relativas ao adoecimento como internações, cuidados em casa, medicação, etc.

Custos de velório, sepultamento e cremação:

 A família é invadida repentinamente por um conjunto de tarefas burocráticas e de alto custo que vão desde a escolha do caixão até a decisão sobre o destino do corpo.

Formas diferentes de lidar com o luto:

Quando um membro da família morre, a saudade que cada um sente não é igual. As diferentes formas de demonstrar ou não o sofrimento pela perda podem ser julgadas e interpretadas pelos demais membros da família, culminando em desentendimentos.

Acusações e cobranças:

Na tentativa de compreender e aceitar a morte, muitos questionamentos podem ser feitos: “por que você demorou para levar ao hospital?”, “por que você não viu que ele estava passando mal?”, “como você deixou ele ir a esta festa?”. Estes questionamentos só causam mais sofrimento e dor a todos. Na dificuldade de aceitar nossa impotência diante da morte, podemos ferir e ser feridos por acusações. 

Partilhas de bens pessoais e financeiros

Normalmente, o inventário dos bens não é uma tarefa fácil e os acordos são muito difíceis, originando grandes tensões e até rupturas na família. Além disso, o recebimento de seguros e indenizações costumam gerar mal-entendidos dentro da família, mesmo quando a lei estabelece critérios para esta distribuição.

Decisões sobre mudança ou permanência na casa:

Manter ou desfazer-se da casa pode ser motivo de muito estresse entre os membros da família, pois valores sentimentais e financeiros estão envolvidos diretamente nesta decisão. 

Vale destacar a importância de a família estar atenta a estas armadilhas que podem levar a conflitos, para que se possa lidar com estas situações da melhor forma possível, evitando mais sofrimento além do próprio luto. 

Como evitar conflitos familiares durante o luto?

Diálogo e compreensão:

Lembre-se que todos estão feridos e acuados pelo medo do futuro e pela dor da perda, o que pode torná-los mais agressivos e intolerantes. Conversem sobre isso, relevem palavras bruscas trocadas e procurem conversar quando estiverem em um momento melhor.

Procure compartilhar as decisões:

Muitas vezes, no desejo de arrumar as coisas novamente, pensamos que nossa solução é a mais correta e nos esquecemos de consultar os outros envolvidos para verificar se estão também de acordo. 

Planejamento:

Planejar a divisão de bens em vida pode evitar boa parte dos conflitos familiares. Há diferentes formas de se organizar para este momento. 

Tenha flexibilidade para mudanças:

A nova reorganização familiar pedirá flexibilidade e todos devem estar abertos para novos papéis familiares. Quanto mais aberta a família estiver para as mudanças que estão por vir, melhor será esta reorganização. 

Segundo Frank Ostaseski, fundador do Metta Institute e reconhecido líder na área de cuidados no final da vida: 

Não há maneira certa de viver o luto, nem horário, nem caminho definido. E com certeza não há atalhos para ele. O único caminho é atravessá-lo

Busque apoio para o luto.

Nós do Parque da Cerejeiras somos especialistas no apoio ao luto e disponibilizamos vários meios de informação e ajuda gratuita. 

Você pode contar com grupos de apoio, missas, palestras com psicólogas especializadas no luto e muitas opções de materiais e textos em nosso blog sobre o assunto. Confira alguns que preparamos e podem ajudar: 

  • Orientações para ajudar uma pessoa em luto
  • Você sabe como ajudar uma família em luto?
  • Passos para superar o luto
  • Suporte ao Luto no Cerejeiras

Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Grupo Cerejeiras

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