“Luto é amor sem lugar par ir”
Jamie Anderson
A vida é um grande e indecifrável mistério. Estamos sempre prontos para a sua chegada, mas nunca prontos para a sua partida.
A morte deveria nos ensinar a transitoriedade e impermanências de todas as coisas, mas como nos faz lembrar uma antiga frase de Santo Agostinho “sofremos por derramarmos nossa alma na areia e por amarmos um mortal como se ele nunca fosse morrer.”
Sem dúvida, a mente cria recursos de sobrevivência inimagináveis e, muitas vezes, para a proteção da saúde mental, produz mecanismos de defesa, como acreditar que “quem eu amo nunca vai morrer”.
Fora do seu controle e/ou do seu consentimento, em algum momento da vida, você será convocado a viver a perda de um amor. Esse vai ser um caminho longo que você terá que percorrer sozinho. Chamamos esse processo de LUTO, que tem sido definido por estudiosos como: conjunto de reações físicas e psicológicas vividos em decorrência de uma perda significativa de algo ou alguém de grande vínculo afetivo.
Você enfrentará grandes tarefas nesse trabalho de luto, que mesmo sendo universal é absolutamente individual em seu trajeto. A primeira e talvez a mais difícil será aceitar a realidade da perda, vivenciar o pesar, os sentimentos intensos e confusos. Depois dessa, muitas outras virão e você precisa cuidar de si mesmo até para honrar a memória de que partiu.
Especialistas em luto apontam para a importância dos canais de expressões para dar espaço para a dor e para a reconstrução da nova identidade e da nova vida sem a pessoa.
É preciso compreender que não existe regra, manual e ou técnicas de superação do luto, mas falar, contar e recontar, chorar, escrever são algumas possibilidades de aplacar a dor e trazer de volta a memória e as histórias vividas com a pessoa.
Cozinhar o que a pessoa gostava, ir aos lugares preferidos dele(a), ouvir uma música de sua playlist, fazer um encontro virtual com amigos em comum para relembrar histórias, painel de fotos, vídeos, são homenagens bem-vindas nesse processo.
Fazer homenagens não expulsa a dor da ausência, mas acalma a alma e traz de volta o legado e as lembranças de quem foi esse amor. Pode trazer tristeza também, mas sela o tamanho do amor.
No livro “Luto é outra palavra para falar de amor”, Rodrigo Luz discute a forma como a cultura moderna nega e evita qualquer aproximação e conexão do enlutado com o falecido. Ao mesmo tempo afirma que encontrar maneiras adequadas e pessoais para lembrar e conectar com o falecido não é mórbido como pensam alguns: é um trabalho profundo de reencontrar lugar para aquele que morreu e fazer com que continue participando da vida dos sobreviventes por meio de histórias, celebrações e ritos, impedindo que ele morra pela segunda vez.
Os enlutados podem fazer homenagens para honrar o vínculo que fica, mesmo quando a vida daquele ente querido acabou fisicamente.
Que possamos, nesse 2 de novembro, dia de Finados, lembrar, honrar e homenagear os amores ausentes na vida, mas presentes nos nossos corações.
Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Grupo Cerejeiras