O luto pela morte de um filho, independentemente da idade que este tenha: recém-nascido, bebê, criança, jovem ou adulto, pode ser marcado por muita dor, culpa e revolta. Para os pais, este é um dos acontecimentos mais difíceis de ser vivenciado. A morte é um grande e indecifrável mistério que nos coloca frente a uma imponderável verdade: a vida não é do jeito que a gente quer. Nunca teremos o controle ou o conhecimento do enigma que nos livre da dor da perda e do luto.
Perder um filho reafirma nosso sentimento de impotência.
A morte de um filho foge do fluxo do crescimento humano, ela inverte a lei natural e confirma nossa impotência. Os filhos representam o futuro e são a continuidade da geração. A regra já conhecida e compactuada por todos determina nosso desejo de que primeiro vão os avós, depois os pais, depois os filhos e netos.
Assim, de maneira única, sem precedente, viver a morte de um filho e enfrentar esse luto é arrebatador e inominável. Filhos que perdem pais ficam órfãos, pessoas que perdem o parceiro ficam viúvos ou viúvas, mas para a dimensão da perda de um filho não há nenhuma nomenclatura que dê conta.
O papel dos pais nas referências históricas sempre esteve ligado a uma disponibilidade incondicional e a cuidados eternos. O amor parental não é apenas um instinto, é um sentimento de completude, responsabilidade e compromisso nos cuidados físicos e emocionais dos filhos.
Impactos do luto pela morte do filho.
A morte de um filho implicará em um tipo muito particular de luto, que vai solicitar muitas adaptações tanto sob os aspectos individuais dos pais no enfrentamento desta situação, quanto na relação do casal e no sistema familiar que pedirá ajustes.
No artigo “Luto parental: o enfrentamento da perda de um filho”, a Dra. Gabriela Caselatto (2019) afirma que a perda de um filho causa diversos níveis de impactos na vida dos pais.
Impactos instintivos:
como dissemos acima, a ideia de cuidados eternos leva à sensação de impotência e fracasso no papel de cuidador. O sentimento de culpa e responsabilidade, de “poderia ter evitado”, torna-se um grande complicador;
Impactos relacionais:
a constatação de que aquela relação é a perda de uma relação única e intransferível. Um laço que não se refaz com a chegada de um outro filho, por exemplo. Um laço estabelecido ainda que a perda seja no estágio gestacional (um luto, muitas vezes não reconhecido, negligenciado pela sociedade);
Impactos conjugais:
vimos que existem diferenças no modo de expressar a dor e esse fato pode causar desentendimentos, podendo levar em alguns casos a problemas no casamento.
Impactos familiares:
vários fatores precisam ser considerados, pois a família precisa ser compreendida como um sistema de integrantes vivenciando lugares. Como estava a família nesse momento? Qual era o papel daquela pessoa no momento que partiu? Era um jovem que acabou de entrar na faculdade? Uma criança? Um bebê? Alguém que estava doente ou partiu de repente? Era um bebê de um casal que não pode mais ter filhos? A perda ocorreu em decorrência de um acidente, uma doença, um suicídio?
Impactos na comunidade:
as pessoas do entorno podem se afastar por não saberem como lidar com tamanha dor, por temerem chegarem próximas a uma dor tão intensa, impensável a elas.
Como enfrentar o luto após a morte de um filho?
É de suma importância que os pais enlutados vivenciem a sua perda, respeitando o seu ritmo e limites, uma vez que apenas eles sabem o que essa perda representa.
Não temos nenhuma cartilha de procedimentos que diminuam a dor da perda de um filho. Sabemos que a relação não termina com a morte, ela apenas se modifica e, aos poucos, o sofrimento ajudará a dar um outro ressignificado à vida.
Preparamos algumas orientações que podem te ajudar:
- Fale de sua dor, busque pessoas que possam te ouvir sem julgar seus sentimentos. Tudo bem não estar bem, reconheça seus limites e os respeite.
- Você pode até se sentir culpada/o, ficar raivoso e brigar com Deus, mas não se esqueça que outras pessoas e/ou filhos podem estar precisando de você.
- Não tenha pressa em se desfazer dos pertences de seu filho, faça a seu tempo mesmo que as pessoas, querendo te ajudar, tentem te apressar.
- Busque se ocupar com tarefas que lhe façam algum sentido, você não está destinada/o a ser triste para sempre. Busque ONGs ou grupos de apoio, pois eles sempre são acolhedores e trazem relatos de pessoas que perderam filhos como você.
Apoio ao luto no Memorial Parque das Cerejeiras.
Para o Parque das Cerejeiras, o suporte ao luto significa oferecer atendimento humanizado e de acolhimento às famílias com foco na saúde espiritual e psicológica. Atuamos no apoio ao enlutado, em parceria com o Centro de Psicologia Maiêutica, com foco na saúde espiritual e psicológica dos que enfrentam a perda do ente querido.
Entre em contato conosco e conheça nosso trabalho.
Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Grupo Cerejeiras.