Cemitério Memorial Parque das Cerejeiras

“Naquela mesa ele juntava gente e contava contente o que fez de manhã
e nos seus olhos era tanto brilho que mais que seu filho eu fiquei seu fã.”
(Sérgio Bittencourt)

A letra da música “Naquela Mesa”, gravada por diferentes gerações de intérpretes como Nelson Gonçalves e Otto, remete à admiração por uma figura fundamental na construção dos laços familiares: o pai.

O pai é o símbolo da proteção e segurança familiar. Exerce um papel essencial na formação emocional dos filhos. Representa os limites, a lei e os valores morais e éticos, mesmo quando ausente ou separado do núcleo familiar. 

Também contribui para o processo de diferenciação entre o bebê e a mãe, ajudando na construção da autonomia e dos limites essenciais para o desenvolvimento saudável da criança. 

Existem diferentes tipos de pais: pai herói, pai ausente, pai padrasto, pai amigo, entre outros. 

Mas uma verdade é universal: todos viemos de um pai, e a perda dele impõe um processo longo e intenso chamado luto.

O Luto pela perda do pai.

Na Psicologia, qualquer rompimento de um vínculo amoroso exige um trabalho de luto. O luto é um conjunto de reações físicas e emocionais que ocorre quando nos deparamos com a ausência definitiva de alguém. Ele nos obriga a encarar a morte como irreversível e imutável.

A perda do pai é uma das experiências mais profundas e estressantes que um filho pode vivenciar, independentemente da idade ou da qualidade do relacionamento que mantinham. 

Quando o pai morre, há um impacto significativo na dinâmica familiar. Os filhos se tornam órfãos de pai, e a mãe, uma viúva.

Embora existam poucos estudos sobre o luto de filhos que perderam seus pais, algumas pesquisas, como as do psicólogo Amadeo Giorgi, destacam sentimentos comuns nesse processo: a sensação de abandono, o vazio, a solidão, a perda de um apoio e a angústia de um futuro que parecia garantido, mas foi abruptamente alterado.

As lembranças da convivência com o pai – os momentos da infância, as conversas, as viagens – tornam-se memórias preciosas, que ao mesmo tempo confortam e despertam uma dor difícil de processar.

Além disso, as relações familiares costumam se transformar. Um dos filhos ou a mãe pode assumir um papel diferente, e novas responsabilidades surgem. 

Se houver irmãos, é importante lembrar que, embora o pai seja o mesmo, cada um terá uma forma única de vivenciar o luto. Isso pode gerar conflitos sobre como lidar com a ausência do pai, a divisão de responsabilidades e até mesmo as diferentes formas de lembrar e honrar sua memória.

Muitas vezes o meio externo cobra da família uma restauração quase imediata da família, mas o luto demanda tempo, energia e um longo processo de ressignificação.

Como lidar com o luto pela perda do pai.

  1. Permita-se sentir – A perda de um pai é dolorosa. O luto é uma jornada pessoal e não segue regras. Chore, sinta tristeza, raiva ou saudade. Tudo isso faz parte.
  2. Dê espaço para momentos de leveza – Mesmo em meio à dor, é normal sentir alegria e buscar distrações. A saudade permanecerá, mas as boas lembranças também podem ser fonte de conforto.
  3. Não se prenda ao tempo – Não existe um prazo para superar o luto. Cada pessoa tem seu próprio ritmo para lidar com a dor e a ausência.
  4. Busque apoio – Conversar com amigos, familiares ou participar de grupos de apoio para filhos que perderam os pais pode ajudar a aliviar a carga emocional.
  5. Aceite que você mudará – O luto transforma quem somos. A perda de alguém querido nos marca, independentemente da idade.
  6. Respeite seus sentimentos – Sentir culpa por algo não dito ou feito é comum, mas lembre-se de que nenhum relacionamento é perfeito.
  7. Evite comparações – Seu relacionamento com seu pai foi único. Validar seus sentimentos ou compará-los com os de outras pessoas pode ser prejudicial. O mais importante é buscar entendimento e apoio dentro da família.
  8. Considere ajuda profissional – Se sentir necessidade, procure um terapeuta especializado em luto. Profissionais podem ajudar a tornar esse processo menos solitário e mais compreensível.
  9. Cuide da sua saúde – Pratique atividades que façam bem para o corpo e a mente. Pequenas homenagens ao seu pai podem ajudar a manter viva sua memória e seu legado.
  10. Lembre-se: o amor permanece – Quem ama deseja que aqueles que ficaram sigam vivendo e encontrando felicidade. Honre a memória do seu pai continuando a trilhar seu próprio caminho.

Mesmo sabendo que a vida é finita, nunca estamos verdadeiramente preparados para perder alguém que amamos.

Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Cerejeiras

O testamento vital, também chamado de diretivas antecipadas de vontade, é um documento que formaliza como uma pessoa deseja ser tratada em casos de doença grave ou estado terminal quando estiver impossibilitado de tomar decisões. 

Através do testamento vital, é possível deixar instruções sobre tratamentos e metodologias terapêuticas que deseja (ou não) receber, bem como procedimentos médicos que aceita (ou não) se submeter. 

Estando previamente registradas as vontades, crenças e desejos do declarante, evita-se que familiares ou médicos tomem decisões contrárias aos desejos do paciente.

Qual a diferença entre testamento vital e o testamento convencional?

O testamento convencional tem como objetivo determinar, ainda em vida, o que deverá ser feito com nossos bens materiais após nosso falecimento. Ele se restringe à partilha dos bens e patrimônio. Não há referência sobre decisões em relação ao nosso corpo físico.

O testamento vital se assemelha ao testamento convencional pois também tem validade jurídica, é unilateral, personalizado e revogável. No entanto, suas funções são completamente distintas. 

O testamento vital diz respeito às decisões que precisam ser tomadas em relação ao nosso corpo físico quando não estivermos aptos a decidir. Será utilizado em caso de doenças terminais e doenças graves progressivas e irreversíveis que tornam o paciente incapaz de tomar decisões, como, por exemplo, câncer, Alzheimer, transtorno mental, demência ou outros transtornos cerebrais. 

Quem pode fazer o testamento vital?

Qualquer pessoa pode fazer o seu testamento vital a qualquer momento da vida, desde que seja maior de idade e tenha capacidade de discernimento. Também a qualquer momento o testamento vital pode ser modificado ou revogado. 

Se o paciente já estiver em acompanhamento médico, não é necessário que o documento seja feito por alguém da área jurídica, nem mesmo aprovado por um advogado. O paciente pode apenas manifestar suas diretivas antecipadas de vontade ao médico, que deve anexá-las ao prontuário.

Qual a validade jurídica do testamento vital?

A Resolução 1995/2012 do Conselho Federal de Medicina disciplina o testamento vital, definindo as diretivas antecipadas de vontade como “o conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade”.

O testamento vital, reconhecido pela comunidade médica e pelo Conselho Federal de Medicina, representa um suporte ético e legal para que os profissionais da saúde passem a considerar a autonomia de vontade do paciente. 

O Artigo 2º Resolução 1995/2012 prevê expressamente que o médico levará em consideração as diretivas antecipadas de vontade do paciente, que devem prevalecer sobre qualquer outro parecer não médico, inclusive sobre os desejos dos familiares.

Por outro lado, o médico deixará de levar em consideração as diretivas antecipadas de vontade do paciente quando, na análise do médico, estiverem em desacordo com os preceitos ditados pelo Código de Ética Médica.

No Brasil, o respaldo do Conselho Federal de Medicina se tornou presente somente em 2012. No entanto, esse processo já vem ocorrendo em outros países, como Reino Unido, Austrália e EUA, há muito tempo.

Como e onde é feito o testamento vital?

O testamento vital pode ser feito de forma escrita, com a orientação de um advogado, por escritura pública, ou diretamente com um médico.

É possível entregar uma cópia ao hospital ou aos médicos de confiança para garantir que as diretrizes sejam seguidas. 

Fazer o testamento vital através de escritura pública em cartório traz algumas vantagens, como maior segurança jurídica, o acesso fácil e a garantia do armazenamento: o testamento vital estará arquivado em cartório e poderá ser acessado de forma segura. 

Benefícios do testamento vital.

Elaborar um testamento vital proporcionará comodidade à sua família, que não terá que tomar decisões difíceis num momento de já inevitável tristeza. 

Além disso, você tem a certeza de que não será submetido a tratamento que não deseja e poderá manter o controle sobre o seu corpo, especialmente em casos de doenças terminais.

Quais diretivas posso colocar no testamento vital?

  • Prefiro falecer em casa, perto dos familiares.
  • Desejo não ser mantido vivo exclusivamente por aparelhos.
  • Não quero receber transfusão de sangue.
  • Solicito a presença de um representante religioso para oração ou visita.
  • Caso o coração pare de bater e eu pare de respirar, não desejo ressuscitação cardiopulmonar.
  • Não autorizo terapias como diálise, quimioterapia ou radioterapia.
  • Não desejo me submeter a pequenas cirurgias que não servirão para me dar conforto ou aliviar minha dor.

O documento é totalmente personalizável e pode ainda incluir itens como o conforto do paciente, como, por exemplo:

  • O tipo de música que gostaria de ambientar no quarto.
  • Se quer deixar a barba crescer ou fazer a barba uma vez na semana.
  • Quais roupas gostaria de usar.

O testamento vital pode também nomear um procurador em saúde, que poderá ser um familiar, um amigo, uma pessoa de confiança, que poderá tomar decisões caso apareça uma situação que não está prevista no testamento vital.

O testamento vital pode autorizar a eutanásia?

No Brasil, eutanásia não é permitida. Portanto, não terá efetividade sua inclusão no testamento vital.

Alguns termos importantes devem ser levados em conta para entendermos a diferença:

  • Eutanásia: ato de antecipar morte sem sofrimento a um doente atingido por afecção incurável que produz dores intoleráveis.
  • Ortotanásia: direito à morte natural, sem intervenção de métodos extraordinários para o prolongamento da vida.
  • Distanásia: prática pela qual se prolonga a qualquer custo e através de meios artificiais a vida de um enfermo incurável.

O testamento vital não pode servir para antecipar a morte do paciente (eutanásia). Mas as diretivas antecipadas podem prever que meios artificiais custosos não sejam aplicados para prolongar a vida, direcionando para que a morte ocorra de modo natural (ortotanásia).

O testamento vital e a importância do planejamento.

O testamento vital é uma ferramenta poderosa para garantir o respeito à autonomia, à dignidade e às escolhas pessoais no fim da vida. Ele previne conflitos familiares, facilita o trabalho dos médicos e evita o uso de tratamentos invasivos desnecessários. 

Trata-se de um dos aspectos de um tema mais abrangente, que é o planejamento para a morte. 

Sobre o planejamento, recomendamos a leitura de nosso artigo “Como se preparar para a morte? Conheça os benefícios do planejamento”. Nele abordamos a importância do planejamento estendido ao tema da morte, que representa um tabu em nossa sociedade. 

De fato, apesar de ser a única certeza que temos, a maioria de nós prefere não pensar no assunto e, por isso, somos pegos de surpresa. 

Além do testamento vital, temas como a organização das informações financeiras, testamento, doação de órgãos, escolha de cemitério, entre outros, contribuirão para a saúde financeira familiar, além de diminuir a burocracia em momentos difíceis.

Vamos conversar sobre a relação entre o luto e a espiritualidade? 

O luto é uma experiência que afeta a vida de todas as pessoas, mas sempre de diferentes formas. Ele é individual: não há regras ou receitas de como ressignificar a vida de quem fica depois da morte de alguém com quem se vinculou e amou. 

Quando a palavra luto é pronunciada, ela não aparece sozinha. Junto, vêm palavras como dor, saudade, solidão, tempo e medo. Nesse contexto, a espiritualidade pode servir como uma âncora, oferecendo consolo e um sentido de propósito. 

Ela também ajuda a redefinir a relação com o tempo, ensinando a paciência e a aceitação do processo de cura

Dessa forma, durante a jornada do luto, a dimensão espiritual precisa ser considerada, uma vez que ela pode colaborar para que o enlutado aceite a realidade do luto e possa buscar novos sentidos para sua vida.

Há diferença entre religiosidade e espiritualidade?

Já respondendo à pergunta: sim, há diferença. Podemos encontrar pessoas que cultivam a espiritualidade, mas não professam uma religião.

A religiosidade está frequentemente associada a instituições organizadas e a templos, como igrejas, sinagogas, mesquitas e outros locais de culto. Essas instituições possuem doutrinas, regras e práticas estabelecidas que os seguidores são incentivados a aderir. A religiosidade inclui rituais e cerimônias específicos que reforçam a tradição e promovem um senso de comunidade e pertencimento entre os seus membros. 

Além disso, a religiosidade baseia-se geralmente em textos sagrados, lideranças religiosas e um sistema de crenças que guiam a prática e a fé dos indivíduos, valorizando a continuidade das tradições e costumes da religião.

Por outro lado, a espiritualidade é um conceito amplo e variável, que muitas vezes evoca uma experiência interior, focando mais na experiência individual e na busca pessoal de significado, propósito e conexão com algo maior que si mesmo. 

É uma abordagem mais flexível, aberta a interpretações pessoais e menos estruturada em comparação com a religiosidade. 

A espiritualidade enfatiza a autenticidade e a autodescoberta, permitindo que cada pessoa explore sua própria jornada espiritual sem necessariamente seguir doutrinas estabelecidas ou práticas formais. 

Em essência, enquanto a religiosidade é mais sobre a prática coletiva e a adesão a um conjunto de crenças organizadas, a espiritualidade se volta à experiência interna e pessoal de cada indivíduo em sua busca por entendimento e conexão espiritual. 

A dor da perda pode levar à busca pela espiritualidade.

A espiritualidade costuma ter um papel muito importante no processo de luto. Diante da perda de alguém amado, o mundo que antes se conhecia passa a parecer um lugar diferente, estranho e difícil de estar. 

A frase do professor doutor Kenneth J. Doka resume bem essa situação: 

Todos nós temos crenças que nos dão alguma sensação de segurança – que dão sentido ao mundo e oferecem um código para a vida, sejam quais forem as raízes. Às vezes, uma perda desafia profundamente essas noções.” 

A confiança na vida e em tudo que era considerado como seguro pode sofrer alterações e gerar um sentimento de desconexão com muitas coisas que sustentavam as crenças e valores pessoais. Sentimentos ambivalentes e antagônicos são esperados e, nesse momento, o enlutado precisa ressignificar a vida, encontrar novas formas de compreendê-la, bem como a si mesmo e às pessoas ao seu redor.

A espiritualidade, nesse contexto, pode oferecer um caminho para encontrar significado e paz interior diante da tragédia, promovendo uma reconexão com o que se considera sagrado ou transcendente. 

Ao mesmo tempo, essa dor pode estimular uma transformação pessoal, incentivando a reflexão sobre a natureza da existência, o propósito da vida e o valor das relações humanas. 

Em suma, a perda de um ente querido não só desafia a estabilidade emocional, mas também desencadeia um profundo processo de busca espiritual e autoconhecimento.

A espiritualidade ajuda a responder perguntas que vem à tona durante o processo de luto.

Quem passa por um processo de luto costuma suscitar diversas perguntas sobre o que aconteceu e sobre o que pode acontecer dali para frente. É neste contexto que muitas pessoas podem se aproximar do seu eu espiritual em busca de respostas, para se reorganizarem e continuarem dando sentido a sua vida. 

Assim, para muitos, a espiritualidade proporciona conforto ao sugerir que há um propósito maior ou uma razão divina por trás dos eventos difíceis da vida. A crença em uma força superior ou em um plano espiritual pode ajudar a contextualizar a perda dentro de um quadro mais amplo de significado e continuidade.

Para aqueles que não são adeptos a nenhuma religião ou não tenham crenças em um ser maior, uma divindade, a espiritualidade também pode ajudar. Ela incentiva uma introspecção profunda e pessoal, levando os enlutados a refletirem sobre suas próprias vidas e suas conexões com o mundo ao seu redor. 

A pergunta “E daqui para frente?” pode ser particularmente poderosa, motivando uma reavaliação dos valores, prioridades e objetivos de vida. 

Através de práticas espirituais como a meditação, recitação de mantras ou o estudo de textos sobre o tema, os indivíduos podem encontrar caminhos para a cura e a renovação. A espiritualidade não apenas oferece respostas, mas também fortalece a resiliência e a capacidade de encontrar um novo sentido e propósito após a perda.

6 dicas que quem está enfrentando um luto deve se lembrar.

Não existe um protocolo de comportamentos para que todos passem pelo luto do mesmo jeito. 

Contudo, há seis dicas que podem ajudar a atravessar esse momento de uma forma mais leve e menos aflitiva: 

  1. Não se assuste se seus referenciais de crenças mudarem. O luto desorganiza nossas ideias.
  2. Fique perto de pessoas que te acolham e que possam te ouvir sem julgamentos, exercendo a prática da empatia.
  3. Procure realizar atividades que te ofereçam propósito e que te farão se sentir melhor.
  4. Respeite o que está sentindo. Provavelmente, você terá sensações ambíguas e ambivalentes por um bom tempo.
  5. Se estiver em um dia ruim e doloroso, tudo bem. Aceite como algo que faz parte do processo.
  6. Caso se sinta feliz em algum momento, não se culpe ou martirize. Você está vivo e se a pessoa que faleceu pudesse te dizer algo, por certo diria: fique bem, você pode ser feliz de novo.

Grupo de Apoio ao Luto no Memorial Parque das Cerejeiras.

No Cerejeiras, nos preocupamos em acolher as famílias enlutadas e oferecer a elas um pouco de conforto nesse momento. Por isso, proporcionamos ao longo do ano e de forma gratuita os Grupos de Apoio ao Luto.

São encontros cujo objetivo é amparar aqueles que perderam um ente querido, por meio da troca de experiências e do suporte profissional de psicólogos do luto convidados. Para mais informações, converse com nossos especialistas pelo telefone (11) 4040-5767.

Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Cerejeiras

Foi lançado recentemente um importante livro no campo da Tanatologia, área de estudo científico sobre a morte. 

“Amor e Perda: as raízes do luto e suas complicações” é uma obra de Colin Murray Parkes, conceituado pesquisador da área, cujas contribuições são de inestimável valor para os profissionais que lidam direta ou indiretamente com os temas de luto e perdas. 

Na introdução, Colin nos lembra que, se o amor, laço psicológico que vincula uma pessoa a outra, é a fonte de prazer mais profunda na vida, a perda daqueles que amamos é a mais profunda fonte de dor. 

Administrar o amor parece tarefa fácil, mas como dar conta da dor de um rompimento amoroso, de um laço afetivo intenso

Nossa experiência com famílias enlutadas tem nos ajudado a compreender quão complexa e desorganizadora é essa vivência. Não há um conjunto de regras que possa sinalizar os procedimentos a serem tomados, já que o luto é um processo individual, de tempo indefinido e com manifestações das mais diversas possíveis. 

O que é sabido, contudo, é que muitas mudanças acontecem do lado de dentro e do lado de fora de cada um. A construção de uma nova identidade, sem a presença da pessoa amada, vai demandar um tempo psicológico que é muito diferente em seu mecanismo interno do tempo cronológico do relógio.   

O próprio Freud, em sua obra “Luto e Melancolia”, cunhou o termo “trabalho de luto”, entendendo que essa vivência requer uma elaboração psicológica e um longo processo de reorganização.  

O “start” desse processo se dá no contato da pessoa com a realidade da perda, ou seja, com a notícia da morte, com a preparação da cerimônia de velório e sepultamento. No contato com o corpo, com o sentimento de ausência e de irreversibilidade da morte, o enlutado começa o seu trabalho de luto. 

Aceitando a realidade da morte.

A tarefa inicial é aceitar a realidade da perda. Enfrentar essa ideia exigirá uma luta grande entre o real e o imaginário. 

Pode acontecer de alguns enlutados ficarem fixados na ideia de que o falecido está apenas viajando. É igualmente frequente ouvir os familiares se referirem a ele usando o tempo presente em vez do pretérito, assim como a procura por seus objetos, cheiros, fios de cabelo ou última roupa usada. 

Sabemos que esses mecanismos trazem um conforto psicológico temporário, mas só postergam a aceitação da realidade, que será inevitável em algum momento.

Aceitar a realidade da morte de um ente querido é crucial para o processo de luto e para a recuperação emocional. Essa aceitação permite que o enlutado comece a confrontar e processar a dor, ao invés de permanecer em negação, o que pode prolongar o sofrimento e dificultar a cura. 

Reconhecer a perda é o primeiro passo para integrar a experiência na própria vida e encontrar um novo sentido sem a presença física do ente querido.

Além disso, essa aceitação ajuda a pessoa a adaptar-se às mudanças, a redefinir suas rotinas e a construir uma nova rotina. Também facilita o recebimento de apoio emocional e prático de outras pessoas, permitindo que a dor seja compartilhada e aliviada. 

Em última análise, aceitar a realidade da morte é fundamental para honrar a memória daquele que partiu, encontrar a paz interior e seguir adiante com a própria vida.

A necessidade de expressar a dor.

Aliada a essa difícil constatação da perda e da ausência, outro trabalho se faz necessário: o exercício de expressão da dor. 

Enfrentar esses momentos exige canais de expressão que nem sempre são utilizados pelo enlutado. Estudos científicos apontam para o grande ônus físico e mental de reter e conter sentimentos. Mais especificamente, na área da psicologia, é sabido que sentimentos que não têm expressão tornam-se fermento para a depressão.

Assim, é importante que o enlutado encontre um modo de manifestar suas emoções, a fim de ajudá-lo na ressignificação dos seus sentimentos. Isso pode ser feito de diversas formas, como em conversas com amigos e familiares, participando de grupos de apoio ao luto, ou até mesmo se engajando em atividades criativas como a escrita, a arte ou a música. 

Expressar os sentimentos de maneira saudável permite que o enlutado libere a dor acumulada e comece a entendê-los melhor, além de se reorganizar nessa nova etapa de sua vida. 

O papel fundamental da reorganização no processo de luto.

Por fim, o enlutado é impelido a ajustar-se ao novo meio ambiente, a se reorganizar emocionalmente e continuar sua vida, agora sem a pessoa que amou – tarefa de grande monta que implica em encontrar outro lugar simbólico para a pessoa falecida. 

Dizemos que o momento de um equilíbrio suportável é quando o enlutado passa a não morrer de saudade, mas a viver a saudade

Como vimos acima, o início do processo de luto se dá com a notícia da morte, com a preparação da cerimônia de velório, do sepultamento ou cremação, e com o contato com o corpo. 

À medida que o tempo passa, é importante começar a redefinir as rotinas diárias. Manter-se ocupado com atividades cotidianas e novos hobbies pode ajudar a preencher o vazio deixado pela perda. 

Não é necessário dar um passo grande logo de início: pequenas metas diárias são o suficiente para ir se reorganizando durante esse processo.

Encontrar maneiras de homenagear a memória do ente querido, como criar um memorial ou dedicar tempo a uma causa que era importante para ele, também pode proporcionar um sentido de continuidade e propósito.

Não parece nada fácil lidar com as perdas e viver um luto. Mesmo sabendo que a morte faz parte do ciclo da vida, insistimos em não arquivar essa verdade em nossos vínculos e em nossas relações amorosas. 

Por isso, somos tomados por tanto sofrimento quando a natureza nos lembra que somos parte dela. 

Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Cerejeiras

Se buscarmos o significado da palavra “finados” chegamos ao verbo “finar” (do latim “finis”), encontraremos as seguintes definições: acabar, finalizar, encerrar. 

Mas será que é possível encerrar um vínculo de amor? Como diz o poeta português Miguel Esteves Cardoso: 

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente, como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa, como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?

Essas são algumas das inúmeras perguntas feitas por quem está vivendo o rompimento de um vínculo significativo causado pelo falecimento de um ente querido, independente do tempo transcorrido. 

Vamos conversar um pouquinho sobre isso?

A intensidade do luto: impacto arrebatador das emoções.

Por mais que saibamos que a morte é algo intrínseco à vida, sua chegada ainda nos pega de surpresa. 

Os enlutados relatam que, ao serem comunicados do falecimento, é como se em um segundo o relógio o mundo virasse de cabeça para baixo e uma montanha-russa de sentimentos surgisse, trazendo revolta, medo, tristeza, insegurança, ansiedade, raiva, descrença, indignação, apatia, impotência, dificuldade de concentração, solidão, entre muitos outros.

Por essa razão, os especialistas em luto vêm apontando a necessidade de reconhecer as particularidades e individualidades desse processo. Cada um se aproxima e lida com a morte usando os recursos desenvolvidos ao longo da vida e com a história e a memória construídas com o ente querido. 

Por vezes são lembranças dispersas, esquecidas, como memórias ao vento.

Ou seja, todos sofrerão com tamanho impacto, mas a diferença está em como cada um lidará com esse momento.

Alguns podem buscar refúgio em rituais tradicionais de despedida, como velórios e funerais, encontrando conforto ao seguir as etapas que simbolizam a passagem da vida para a morte. 

Outros, no entanto, podem preferir se afastar desses ritos, optando por momentos mais privados de luto e reflexão. 

Além disso, há quem encontre na arte, na escrita ou até mesmo em atos de caridade formas de canalizar a dor, transformando-a em algo que traga significado ou que ajude a preservar a memória do ente querido. 

Independentemente da forma de enfrentamento, o que é fundamental é o reconhecimento de que não há um “certo” ou “errado” nesse processo. Cada passa pelo luto à sua maneira, e respeitar essas diferenças é essencial para oferecer o suporte adequado.

Sabemos que o luto não passa, nós é que passamos por ele. Ele é companhia eterna, porém a dor e o sofrimento não precisam ser. 

Permita-se transitar pela tristeza quando precisar, mas o importante é não fazer dela um lugar permanente.

O luto não precisa e não deve ser enfrentado sozinho.

Se você está vivendo uma perda, busque ajuda, se cuide, pois o luto é como um machucado que precisa de curativos permanentes. 

O enlutado costuma ter muita dificuldade de pedir ajuda. Muitas vezes, ele fica esperando o outro perceber suas dores e dificuldades. Não esqueça que a dor é sua e só você sabe o tamanho dela.  

Busque amigos que possam ouvir sem julgar o seu momento, ou procure grupos de apoio ao luto para compartilhar seus sentimentos e se sentir acolhido. Dê palavras à tristeza, porque o pesar que não se fala endurece o coração já tão sofrido.

Por outro lado, se você está acompanhando alguém que está vivendo um luto, se ofereça para fazer coisas práticas coisas do dia a dia: uma comida, um supermercado, uma farmácia, um pagamento. 

Essas ações práticas ajudam porque, do lado de fora, a rotina parece continuar normalmente, com as mesmas exigências diárias e a aparente normalidade do mundo ao redor. No entanto, para quem está passando pelo luto, essa continuidade pode soar dissonante, quase cruel num primeiro momento.

Às vezes, um simples abraço, o silêncio e a paciência para o outro falar podem ser muito significativos nesse processo. 

O que mais importa é ajudar para que o enlutado consiga criar um ciclo de adaptação e recomeço, no qual aprenda a viver com o que foi perdido, mas também com o que ainda há pela frente.

Já dizia o poeta: “a saudade é o amor que fica”.

Estamos nos aproximando de um período de muitas datas difíceis para quem perdeu um ente querido: finados, natal, ano novo. 

Essas reuniões costumam ser disparadoras de lembranças: leia nosso artigo Luto e Natal: o impacto das festas de final de ano no processo de luto das famílias sobre esse tema. 

Desse lugar de memórias e histórias é que eternizamos nossos amores, justificando, inclusive, nossa saudade que, como nos faz lembrar Lu Oliveira, “saudade tem nome e sobrenome, tem cheiro, tem cor, textura e gosto. Saudade é a vontade que não passa. É a ausência que incomoda”. 

Ao contrário do que se imagina, saudade não é falta, e sim a presença da lembrança, é a prova viva do amor. Aqueles que amamos não morrem nunca, eles vivem eternamente em nossa memória, enquanto forem lembrados e celebrados. 

Assim, vamos fazer dessas datas uma coleção de lembranças dos nossos amores e, se a saudade surgir, é a prova de que tudo valeu a pena.  

Qual o nome de sua saudade? 

Quais são as lembranças que você guarda desse amor? 

Quais memórias ao vento você consegue alcançar?

Se você quiser saber mais das ações de apoio ao luto que o Cerejeiras disponibiliza aos familiares de forma gratuita, entre em contato conosco pelo (11) 4040-5550 e se informe da programação. 

Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Cerejeiras