Cemitério Memorial Parque das Cerejeiras

O nome Guarapiranga tem origem tupi-guarani, formado pela junção de “guará” (ave, especialmente o guará-vermelho) e “piranga” (vermelho). Portanto, Guarapiranga significa “ave vermelha”, uma possível referência às aves que habitavam a região.

Antes da construção da represa, a área que hoje abriga o reservatório era formada por várzeas, pequenos cursos d’água e extensas áreas de mata atlântica preservada. 

O principal curso d’água da região era o rio Guarapiranga, um afluente do rio Pinheiros, além de córregos menores que serpenteavam pela bacia hidrográfica.

O território, formado por terras de baixa declividade e áreas alagadiças, era ocupado por comunidades indígenas, pequenos agricultores e algumas propriedades rurais que produziam alimentos para abastecer o crescente núcleo urbano de São Paulo.

Com o processo de urbanização de São Paulo no final do século XIX e início do século XX, a necessidade de controle hídrico e de fornecimento de energia elétrica se tornou uma prioridade. Foi nesse contexto que a ideia de construir uma represa na região começou a tomar forma.

Construção da Represa de Guarapiranga.

A Represa de Guarapiranga começou a ser construída em 1906 pela empresa The São Paulo Tramway, Light and Power Company, mais conhecida como Light, à época responsável pela produção e distribuição de energia elétrica e pelo transporte urbano da cidade.

Originalmente, seu objetivo principal não era o abastecimento de água potável, mas sim a regulação do fluxo das águas do rio Tietê, fundamental para a geração de energia nas usinas hidrelétricas da Light. A Guarapiranga atuava como uma espécie de reservatório de compensação, liberando ou retendo água conforme as necessidades de operação das turbinas da usina de Parnaíba, atual usina Edgard de Souza, em Santana do Parnaíba.

Para viabilizar a obra, extensas áreas foram desapropriadas, incluindo chácaras, fazendas e pequenas propriedades rurais. Na época, a região era pouco povoada, com ocupação dispersa e economia baseada principalmente na agricultura de subsistência. 

A construção da barragem e do reservatório formou um lago artificial com capacidade para armazenar milhões de metros cúbicos de água, alterando de forma drástica a paisagem local e inaugurando uma nova era para o desenvolvimento da região sul de São Paulo.

Desenvolvimento de bairros na região: Interlagos, Veleiros e Riviera Paulista.

A presença da represa e a beleza cênica de suas margens começaram a atrair, nas décadas seguintes, investidores e empreendedores interessados em transformar a área em espaço de lazer e moradia. 

Nas décadas de 1920 e 1930, a região passou a ser valorizada para loteamentos residenciais e veraneio. Um dos exemplos mais icônicos desse processo foi a criação do bairro de Interlagos, projetado com inspiração em empreendimentos semelhantes na Europa e nos Estados Unidos. O plano de Interlagos previa ruas arborizadas, terrenos amplos e proximidade com a represa para lazer náutico e esportes aquáticos. 

Ao longo do século XX, outros bairros surgiram ou se consolidaram, como Veleiros e Riviera Paulista, todos associados à paisagem da represa e voltados para moradores de classe média e alta.

Esse desenvolvimento inicial, marcado por projetos urbanísticos organizados, contrastaria com o crescimento desordenado que viria a seguir, especialmente a partir dos anos 1970.

Clubes de campo e de iatismo.

A Guarapiranga também se consolidou como um importante pólo de lazer e esportes náuticos em São Paulo. 

Clubes de campo e de iatismo começaram a ser fundados nas margens da represa, atraindo paulistanos em busca de contato com a natureza e opções de lazer ao ar livre.

Entre os clubes mais tradicionais estão o São Paulo Yacht Club (fundado em 1917), o Yacht Club Paulista, o Clube de Campo Castelo e o Clube de Campo de São Paulo, que até hoje oferecem uma ampla infraestrutura para prática de esportes aquáticos, como vela, remo e canoagem, além de atividades sociais e culturais.

A Guarapiranga se tornou, assim, um destino privilegiado para passeios de fim de semana e férias, com áreas para pesca, trilhas e atividades aquáticas, consolidando sua vocação para o turismo e o lazer.

Grandes iatistas brasileiros: das águas da Guarapiranga para o mundo.

Muitos iatistas de destaque iniciaram suas carreiras ou tiveram forte ligação com os clubes e escolas de vela da região. 

Robert Sheidt, nascido em 1973, começou a velejar ainda criança, aos 9 anos, no Yacht Club Santo Amaro (YCSA), um dos clubes náuticos mais tradicionais da Guarapiranga. Ao longo de sua carreira, acumulou cinco medalhas olímpicas (duas de ouro, duas de prata e uma de bronze), além de onze títulos mundiais nas classes Laser e Star, consolidando-se como o velejador brasileiro mais vitorioso de todos os tempos.

Os irmãos Lars Grael (duas medalhas olímpicas de bronze) e Torben Grael (cinco medalhas olímpicas, das quais duas de ouro), embora tenham se projetado principalmente em Niterói (RJ) e em outras localidades litorâneas, começaram suas trajetórias na vela em São Paulo, treinando em clubes de vela na Represa de Guarapiranga. 

Crescimento desordenado da cidade.

Em contraste com o desenvolvimento das décadas iniciais, com bairros planejados e clubes sofisticados, o entorno da Guarapiranga sofreu, a partir dos anos 1970, um intenso e desordenado crescimento urbano, impulsionado pela expansão periférica de São Paulo.

Com a pressão do crescimento populacional da cidade, que passa de 2,2 milhões de habitantes em 1950 para 8,6 milhões em 1980, a represa passou a ser cercada por ocupações irregulares e loteamentos clandestinos, sem infraestrutura básica adequada, como saneamento e coleta de lixo. Esse processo de ocupação irregular provocou graves impactos ambientais, como o despejo de esgoto in natura, a contaminação das águas e o assoreamento do reservatório.

A degradação da qualidade da água e da paisagem refletiu diretamente na redução da atratividade da represa como espaço de lazer, enquanto crescia sua importância como manancial de abastecimento de água para a cidade.

Importância da represa como manancial.

A partir de 1927, a Represa de Guarapiranga foi incorporada ao sistema de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo.

Hoje, a represa responde por cerca de 20% da água consumida na cidade, atendendo milhões de habitantes. Entretanto, a poluição e a ocupação desordenada impactaram significativamente a capacidade de armazenamento e a qualidade da água, reduzindo a cota operacional da represa.

Programa Mananciais: uma estratégia para proteger a Guarapiranga e garantir o abastecimento de São Paulo.

O Programa Mananciais foi estruturado no final da década de 1990 e início dos anos 2000 como uma resposta integrada ao grave quadro de ocupações irregulares, falta de saneamento e poluição que ameaçava os reservatórios de Guarapiranga e Billings. 

Sua proposta é atuar em várias frentes, incluindo a urbanização e regularização de assentamentos informais em áreas de manancial, com a expansão da coleta e tratamento de esgoto, e a desocupação de áreas de risco e preservação ambiental, com a remoção de famílias de áreas de preservação permanente e a recuperação de matas ciliares.

Incentiva também a criação de parques e áreas de lazer nas margens da represa, funcionando como zonas-tampão entre as áreas urbanas e o corpo hídrico.

Atualmente, o Programa Mananciais continua sendo um dos pilares da política ambiental e urbana da Região Metropolitana de São Paulo, mas enfrenta o desafio de conciliar preservação ambiental, inclusão social e abastecimento de água em um contexto de consolidação urbana na região.

Novas vocações para a Guarapiranga.

Nas últimas décadas, apesar da intensa urbanização e da pressão sobre o meio ambiente, a região da Guarapiranga também recebeu iniciativas e empreendimentos voltados para a valorização ambiental, cultural e espiritual, criando novos marcos que atraem tanto visitantes quanto moradores locais.

Parque Ecológico do Guarapiranga.

Inaugurado em 1999, o Parque Ecológico do Guarapiranga representa uma das mais importantes iniciativas públicas para preservar e promover o uso sustentável das margens da represa.

Com pouco mais de 250 mil metros quadrados, o parque oferece trilhas ecológicas, áreas para piquenique, ciclovias e espaços para educação ambiental, buscando aproximar a população do ambiente natural da Guarapiranga. 

Solo Sagrado de Guarapiranga.

Outro destaque da região é o Solo Sagrado de Guarapiranga, inaugurado em 1995 e mantido pela Igreja Messiânica Mundial do Brasil. Instalado em uma área de aproximadamente 327 mil metros quadrados às margens da represa, o Solo Sagrado é um espaço de contemplação, meditação e espiritualidade, aberto ao público e conhecido por seus belos jardins e arquitetura harmoniosa, inspirada em princípios japoneses.

Templo Odsal Ling.

Localizado próximo à Represa de Guarapiranga, o Templo Odsal Ling é um dos principais centros de budismo tibetano no Brasil. Fundado na década de 1990, o templo pertence à linhagem Nyingma do budismo Vajrayana e tem como objetivo disseminar os ensinamentos de Buda e proporcionar um ambiente de contemplação, estudo e prática espiritual.

Memorial Parque das Cerejeiras.

O cemitério Memorial Parque das Cerejeiras foi fundado em 1993, com o objetivo de oferecer um local de acolhimento no momento da dor. O Cerejeiras tornou-se uma referência como espaço de preservação da memória, investindo em arte, arquitetura e sustentabilidade. Metade de sua área de 300.000 m2 é dedicada à preservação ambiental.

No livro “Amor e Perda”, Colin Parkes afirma que amor e luto são faces da mesma moeda. Ou seja, não é possível sentir amor sem correr o risco de perder o objeto amado.

Portanto, para compreender o luto, é essencial entender a natureza e os padrões do amor.

Amor e luto.

Se o amor – laço psicológico que vincula uma pessoa a outra – é a fonte de prazer mais profunda da vida, a perda daqueles que amamos é sua fonte de dor mais intensa. Administrar o amor demanda cuidados, mas seu resultado final é sempre gratificante.

Por outro lado, como lidar com a dor de perder um ente querido ou enfrentar o rompimento de um laço afetivo intenso? Nossa experiência com famílias enlutadas tem nos mostrado o quão complexa e desorganizadora é essa vivência.

Não há um conjunto de regras fixas que determinem como proceder. O luto é um processo individual, de duração indefinida e com manifestações extremamente diversas. A ideia de que o luto segue fases predefinidas, como se acreditava no passado, não se sustenta mais nos estudos e experiências atuais.

Sabemos que muitas mudanças acontecem tanto no mundo interno quanto no externo. A construção de uma nova identidade, sem a presença da pessoa amada, requer um tempo psicológico que difere completamente do tempo cronológico.

Trabalho de luto.

Freud, em sua obra “Luto e Melancolia”, cunhou o termo “trabalho de luto”, compreendendo que o luto exige uma elaboração psicológica e um longo processo de reorganização.

O início desse trabalho ocorre no momento em que a pessoa entra em contato com a realidade da perda, seja ao receber a notícia da morte, seja com a preparação da cerimônia de velório e sepultamento.

O contato com o corpo, o sentimento de ausência e a irreversibilidade da morte marcam o começo desse processo.

Esse aspecto explica por que mortes sem corpos ou sem rituais de despedida tendem a gerar lutos mais complexos.

Desafios e tarefas do luto.

O luto impõe desafios individuais, pois está diretamente relacionado à história de cada pessoa. No entanto, J. William Worden, autor de “Aconselhamento do Luto e Terapia do Luto”, identifica desafios gerais presentes em toda perda significativa.

Toda perda envolve aceitação, vivência dos sentimentos e reestruturação da vida.
As quatro tarefas do luto delineadas por Worden são:

1 - Aceitar a realidade da perda.

O primeiro desafio é aceitar a nova realidade imposta pela ausência da pessoa falecida. Esse processo pode gerar um grande conflito entre o real e o imaginário. É comum que alguns enlutados imaginem que o falecido está viajando ou continuem se referindo a ele no presente.

A “procura” – a busca por objetos, cheiros, roupas ou outros vestígios da pessoa amada – é uma tentativa inconsciente de adiar a aceitação da realidade. Embora esse mecanismo traga um conforto temporário, apenas posterga o enfrentamento do luto, que será inevitável.

2 - Expressar a dor.

Junto à constatação da perda, surge outro desafio essencial: expressar a dor.

Enfrentar o luto exige canais de expressão, que nem sempre são utilizados pelo enlutado. Sentimentos como tristeza, raiva e culpa podem coexistir, e é fundamental permitir-se senti-los e partilhá-los como parte do processo.

Estudos científicos apontam para os impactos físicos e mentais da repressão emocional. Emoções não expressas podem contribuir para adoecimentos, como a depressão.

3 – Reorganizar-se: ajustar-se ao mundo sem a pessoa falecida.

O enlutado precisa se adaptar ao novo mundo e se reorganizar emocionalmente para seguir sua vida, agora sem a pessoa amada.

Essa tarefa envolve encontrar um novo espaço interno para o falecido. Muitos ajustes são necessários: os externos, que dependem dos papéis e das interações que existiam com a pessoa falecida, e os internos, relacionados à autoestima e às novas rotinas.

4 - Encontrar um lugar para a pessoa falecida na esfera emocional.

O quarto desafio corresponde ao encerramento do processo de luto.

Nessa etapa, a pessoa enlutada encontra um espaço interno para a memória do falecido, permitindo-se manter a conexão sem impedir sua própria continuidade na vida.

Isso abre caminho para novas experiências e vínculos, como netos, novos amigos e novos interesses. Manter essa ligação significa preservar boas memórias sem competição: o novo não substitui o antigo, e seguir em frente não significa esquecer.

Nunca é fácil.

Lidar com perdas e atravessar o luto nunca é simples.

Mesmo sabendo que a morte faz parte do ciclo da vida, evitamos integrar essa realidade aos nossos vínculos e relações amorosas. Por isso, somos tomados por tanto sofrimento quando a natureza nos lembra que fazemos parte dela.

Dizemos que o momento de equilíbrio suportável ocorre quando o enlutado passa a não morrer de saudade, mas a viver a saudade.

Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Cerejeiras

Você já percebeu como o ambiente pode impactar a elaboração de um luto saudável? O modo como uma pessoa enfrenta a perda e se recupera emocionalmente é profundamente influenciado pelo contexto social, cultural, familiar e físico ao seu redor.

Muitas vezes, é o ambiente familiar ou profissional que precisa se tornar mais acolhedor para quem está de luto. Em outras situações, um espaço organizado e tranquilo pode proporcionar bem-estar, ajudando a processar as emoções com mais serenidade.

Neste texto, exploramos a importância desses fatores e como eles podem contribuir para um processo de luto mais saudável.

Redes de apoio: fundamentais para um luto saudável.

Um dos aspectos mais determinantes para a forma como uma pessoa vivencia o luto é o suporte social disponível. Ter uma rede de apoio sólida, composta por amigos, familiares e colegas, faz uma diferença significativa na capacidade de lidar com a perda.

Em comunidades onde o apoio emocional é incentivado, as pessoas têm mais espaço para expressar suas emoções, o que pode aliviar o peso do luto.
Por outro lado, em ambientes onde a dor da perda é estigmatizada, os enlutados podem se sentir isolados e incapazes de compartilhar seu sofrimento.

Oferecer acolhimento sincero é essencial. Podemos ser uma rede de apoio ao nos mostrarmos disponíveis para ouvir, oferecer suporte emocional genuíno, respeitar o ritmo do enlutado e auxiliá-lo em tarefas do dia a dia. Pequenos gestos de empatia fazem toda a diferença nesse momento delicado.

O papel das crenças religiosas na vivência do luto.

As crenças religiosas e culturais têm grande impacto na forma como as pessoas percebem e vivenciam a perda.
As ideias da morte, da vida após a morte e do próprio luto variam conforme a tradição e a espiritualidade de cada um.

Em algumas culturas, a morte é vista como uma passagem para outra existência, e o luto é encarado como um momento de celebração da vida.
Rituais religiosos podem oferecer conforto e estrutura para atravessar esse período difícil. Participar de cerimônias e práticas religiosas ajuda a encontrar significado e aceitação.

No entanto, é fundamental lembrar que as crenças individuais podem variar amplamente, mesmo dentro de uma mesma religião. Respeitar essas diferenças é essencial para oferecer um ambiente verdadeiramente acolhedor.

O impacto do ambiente físico no processo de um luto saudável.

O espaço onde o enlutado passa a maior parte do tempo também influencia sua recuperação emocional. Seja em casa, no hospital ou em qualquer outro local, um ambiente acolhedor pode ser um refúgio, enquanto um espaço desorganizado ou opressor pode dificultar ainda mais o processo.


Para tornar o ambiente mais propício à elaboração do luto, é importante mantê-lo limpo e organizado, criar uma atmosfera tranquila com iluminação suave e cores relaxantes, e garantir espaços para momentos de privacidade e introspecção.


A presença de objetos do falecido também deve ser considerada com cuidado. Para alguns, essas lembranças trazem conforto; para outros, podem intensificar a dor. O ideal é que cada pessoa avalie o que lhe faz bem, podendo, se desejar, guardar esses itens temporariamente e reintroduzi-los no ambiente aos poucos.

Como adaptar o ambiente profissional ao luto?

O ambiente de trabalho também desempenha um papel fundamental no bem-estar de quem está vivenciando um luto. Algumas medidas podem ajudar os profissionais a atravessarem esse período com mais suporte e compreensão. Flexibilidade nos horários, retorno gradual às atividades e opção de trabalho remoto são alternativas que facilitam a adaptação.


Conceder licenças por luto também pode ser uma medida importante para permitir que o colaborador tenha tempo para se recuperar emocionalmente.
Líderes e colegas de trabalho podem contribuir ao demonstrar empatia e evitar cobranças excessivas. Um ambiente solidário, onde há compreensão e apoio, pode fazer toda a diferença. Disponibilizar informações sobre serviços de aconselhamento ou grupos de apoio também pode ser valioso para quem precisa de suporte adicional.


Respeitar a privacidade do enlutado é essencial. As políticas de Recursos Humanos devem prever diretrizes para lidar com esse tipo de situação, garantindo respeito e acolhimento. Dessa forma, o ambiente de trabalho se torna mais humano e solidário, contribuindo para a recuperação emocional dos colaboradores.

Programas de apoio ao luto no Memorial Parque das Cerejeiras.

No Memorial Parque das Cerejeiras, temos um compromisso contínuo com o acolhimento das famílias enlutadas, proporcionando apoio para que o luto seja atravessado de maneira saudável.


Oferecemos grupos de apoio ao luto, que criam um espaço para compartilhamento de experiências e suporte profissional especializado.
Também realizamos palestras com psicólogas especialistas em luto, geralmente após a missa que costuma ocorrer na Capela Ecumênica do Cerejeiras a cada mês.


Em datas comemorativas, organizamos eventos especiais, como caminhadas em homenagem aos entes queridos.


Para saber mais sobre nossos programas de apoio, entre em contato pelos telefones: (11) 4040-5767 e (11) 5832-5977.


Nosso objetivo é oferecer suporte e acolhimento para que o luto seja vivenciado com respeito e compreensão, promovendo um caminho de recuperação emocional mais leve e humano.

“Naquela mesa ele juntava gente e contava contente o que fez de manhã
e nos seus olhos era tanto brilho que mais que seu filho eu fiquei seu fã.”
(Sérgio Bittencourt)

A letra da música “Naquela Mesa”, gravada por diferentes gerações de intérpretes como Nelson Gonçalves e Otto, remete à admiração por uma figura fundamental na construção dos laços familiares: o pai.

O pai é o símbolo da proteção e segurança familiar. Exerce um papel essencial na formação emocional dos filhos. Representa os limites, a lei e os valores morais e éticos, mesmo quando ausente ou separado do núcleo familiar. 

Também contribui para o processo de diferenciação entre o bebê e a mãe, ajudando na construção da autonomia e dos limites essenciais para o desenvolvimento saudável da criança. 

Existem diferentes tipos de pais: pai herói, pai ausente, pai padrasto, pai amigo, entre outros. 

Mas uma verdade é universal: todos viemos de um pai, e a perda dele impõe um processo longo e intenso chamado luto.

O Luto pela perda do pai.

Na Psicologia, qualquer rompimento de um vínculo amoroso exige um trabalho de luto. O luto é um conjunto de reações físicas e emocionais que ocorre quando nos deparamos com a ausência definitiva de alguém. Ele nos obriga a encarar a morte como irreversível e imutável.

A perda do pai é uma das experiências mais profundas e estressantes que um filho pode vivenciar, independentemente da idade ou da qualidade do relacionamento que mantinham. 

Quando o pai morre, há um impacto significativo na dinâmica familiar. Os filhos se tornam órfãos de pai, e a mãe, uma viúva.

Embora existam poucos estudos sobre o luto de filhos que perderam seus pais, algumas pesquisas, como as do psicólogo Amadeo Giorgi, destacam sentimentos comuns nesse processo: a sensação de abandono, o vazio, a solidão, a perda de um apoio e a angústia de um futuro que parecia garantido, mas foi abruptamente alterado.

As lembranças da convivência com o pai – os momentos da infância, as conversas, as viagens – tornam-se memórias preciosas, que ao mesmo tempo confortam e despertam uma dor difícil de processar.

Além disso, as relações familiares costumam se transformar. Um dos filhos ou a mãe pode assumir um papel diferente, e novas responsabilidades surgem. 

Se houver irmãos, é importante lembrar que, embora o pai seja o mesmo, cada um terá uma forma única de vivenciar o luto. Isso pode gerar conflitos sobre como lidar com a ausência do pai, a divisão de responsabilidades e até mesmo as diferentes formas de lembrar e honrar sua memória.

Muitas vezes o meio externo cobra da família uma restauração quase imediata da família, mas o luto demanda tempo, energia e um longo processo de ressignificação.

Como lidar com o luto pela perda do pai.

  1. Permita-se sentir – A perda de um pai é dolorosa. O luto é uma jornada pessoal e não segue regras. Chore, sinta tristeza, raiva ou saudade. Tudo isso faz parte.
  2. Dê espaço para momentos de leveza – Mesmo em meio à dor, é normal sentir alegria e buscar distrações. A saudade permanecerá, mas as boas lembranças também podem ser fonte de conforto.
  3. Não se prenda ao tempo – Não existe um prazo para superar o luto. Cada pessoa tem seu próprio ritmo para lidar com a dor e a ausência.
  4. Busque apoio – Conversar com amigos, familiares ou participar de grupos de apoio para filhos que perderam os pais pode ajudar a aliviar a carga emocional.
  5. Aceite que você mudará – O luto transforma quem somos. A perda de alguém querido nos marca, independentemente da idade.
  6. Respeite seus sentimentos – Sentir culpa por algo não dito ou feito é comum, mas lembre-se de que nenhum relacionamento é perfeito.
  7. Evite comparações – Seu relacionamento com seu pai foi único. Validar seus sentimentos ou compará-los com os de outras pessoas pode ser prejudicial. O mais importante é buscar entendimento e apoio dentro da família.
  8. Considere ajuda profissional – Se sentir necessidade, procure um terapeuta especializado em luto. Profissionais podem ajudar a tornar esse processo menos solitário e mais compreensível.
  9. Cuide da sua saúde – Pratique atividades que façam bem para o corpo e a mente. Pequenas homenagens ao seu pai podem ajudar a manter viva sua memória e seu legado.
  10. Lembre-se: o amor permanece – Quem ama deseja que aqueles que ficaram sigam vivendo e encontrando felicidade. Honre a memória do seu pai continuando a trilhar seu próprio caminho.

Mesmo sabendo que a vida é finita, nunca estamos verdadeiramente preparados para perder alguém que amamos.

Este texto foi desenvolvido pelo Centro de Psicologia Maiêutica em colaboração com o Cerejeiras

O testamento vital, também chamado de diretivas antecipadas de vontade, é um documento que formaliza como uma pessoa deseja ser tratada em casos de doença grave ou estado terminal quando estiver impossibilitado de tomar decisões. 

Através do testamento vital, é possível deixar instruções sobre tratamentos e metodologias terapêuticas que deseja (ou não) receber, bem como procedimentos médicos que aceita (ou não) se submeter. 

Estando previamente registradas as vontades, crenças e desejos do declarante, evita-se que familiares ou médicos tomem decisões contrárias aos desejos do paciente.

Qual a diferença entre testamento vital e o testamento convencional?

O testamento convencional tem como objetivo determinar, ainda em vida, o que deverá ser feito com nossos bens materiais após nosso falecimento. Ele se restringe à partilha dos bens e patrimônio. Não há referência sobre decisões em relação ao nosso corpo físico.

O testamento vital se assemelha ao testamento convencional pois também tem validade jurídica, é unilateral, personalizado e revogável. No entanto, suas funções são completamente distintas. 

O testamento vital diz respeito às decisões que precisam ser tomadas em relação ao nosso corpo físico quando não estivermos aptos a decidir. Será utilizado em caso de doenças terminais e doenças graves progressivas e irreversíveis que tornam o paciente incapaz de tomar decisões, como, por exemplo, câncer, Alzheimer, transtorno mental, demência ou outros transtornos cerebrais. 

Quem pode fazer o testamento vital?

Qualquer pessoa pode fazer o seu testamento vital a qualquer momento da vida, desde que seja maior de idade e tenha capacidade de discernimento. Também a qualquer momento o testamento vital pode ser modificado ou revogado. 

Se o paciente já estiver em acompanhamento médico, não é necessário que o documento seja feito por alguém da área jurídica, nem mesmo aprovado por um advogado. O paciente pode apenas manifestar suas diretivas antecipadas de vontade ao médico, que deve anexá-las ao prontuário.

Qual a validade jurídica do testamento vital?

A Resolução 1995/2012 do Conselho Federal de Medicina disciplina o testamento vital, definindo as diretivas antecipadas de vontade como “o conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade”.

O testamento vital, reconhecido pela comunidade médica e pelo Conselho Federal de Medicina, representa um suporte ético e legal para que os profissionais da saúde passem a considerar a autonomia de vontade do paciente. 

O Artigo 2º Resolução 1995/2012 prevê expressamente que o médico levará em consideração as diretivas antecipadas de vontade do paciente, que devem prevalecer sobre qualquer outro parecer não médico, inclusive sobre os desejos dos familiares.

Por outro lado, o médico deixará de levar em consideração as diretivas antecipadas de vontade do paciente quando, na análise do médico, estiverem em desacordo com os preceitos ditados pelo Código de Ética Médica.

No Brasil, o respaldo do Conselho Federal de Medicina se tornou presente somente em 2012. No entanto, esse processo já vem ocorrendo em outros países, como Reino Unido, Austrália e EUA, há muito tempo.

Como e onde é feito o testamento vital?

O testamento vital pode ser feito de forma escrita, com a orientação de um advogado, por escritura pública, ou diretamente com um médico.

É possível entregar uma cópia ao hospital ou aos médicos de confiança para garantir que as diretrizes sejam seguidas. 

Fazer o testamento vital através de escritura pública em cartório traz algumas vantagens, como maior segurança jurídica, o acesso fácil e a garantia do armazenamento: o testamento vital estará arquivado em cartório e poderá ser acessado de forma segura. 

Benefícios do testamento vital.

Elaborar um testamento vital proporcionará comodidade à sua família, que não terá que tomar decisões difíceis num momento de já inevitável tristeza. 

Além disso, você tem a certeza de que não será submetido a tratamento que não deseja e poderá manter o controle sobre o seu corpo, especialmente em casos de doenças terminais.

Quais diretivas posso colocar no testamento vital?

  • Prefiro falecer em casa, perto dos familiares.
  • Desejo não ser mantido vivo exclusivamente por aparelhos.
  • Não quero receber transfusão de sangue.
  • Solicito a presença de um representante religioso para oração ou visita.
  • Caso o coração pare de bater e eu pare de respirar, não desejo ressuscitação cardiopulmonar.
  • Não autorizo terapias como diálise, quimioterapia ou radioterapia.
  • Não desejo me submeter a pequenas cirurgias que não servirão para me dar conforto ou aliviar minha dor.

O documento é totalmente personalizável e pode ainda incluir itens como o conforto do paciente, como, por exemplo:

  • O tipo de música que gostaria de ambientar no quarto.
  • Se quer deixar a barba crescer ou fazer a barba uma vez na semana.
  • Quais roupas gostaria de usar.

O testamento vital pode também nomear um procurador em saúde, que poderá ser um familiar, um amigo, uma pessoa de confiança, que poderá tomar decisões caso apareça uma situação que não está prevista no testamento vital.

O testamento vital pode autorizar a eutanásia?

No Brasil, eutanásia não é permitida. Portanto, não terá efetividade sua inclusão no testamento vital.

Alguns termos importantes devem ser levados em conta para entendermos a diferença:

  • Eutanásia: ato de antecipar morte sem sofrimento a um doente atingido por afecção incurável que produz dores intoleráveis.
  • Ortotanásia: direito à morte natural, sem intervenção de métodos extraordinários para o prolongamento da vida.
  • Distanásia: prática pela qual se prolonga a qualquer custo e através de meios artificiais a vida de um enfermo incurável.

O testamento vital não pode servir para antecipar a morte do paciente (eutanásia). Mas as diretivas antecipadas podem prever que meios artificiais custosos não sejam aplicados para prolongar a vida, direcionando para que a morte ocorra de modo natural (ortotanásia).

O testamento vital e a importância do planejamento.

O testamento vital é uma ferramenta poderosa para garantir o respeito à autonomia, à dignidade e às escolhas pessoais no fim da vida. Ele previne conflitos familiares, facilita o trabalho dos médicos e evita o uso de tratamentos invasivos desnecessários. 

Trata-se de um dos aspectos de um tema mais abrangente, que é o planejamento para a morte. 

Sobre o planejamento, recomendamos a leitura de nosso artigo “Como se preparar para a morte? Conheça os benefícios do planejamento”. Nele abordamos a importância do planejamento estendido ao tema da morte, que representa um tabu em nossa sociedade. 

De fato, apesar de ser a única certeza que temos, a maioria de nós prefere não pensar no assunto e, por isso, somos pegos de surpresa. 

Além do testamento vital, temas como a organização das informações financeiras, testamento, doação de órgãos, escolha de cemitério, entre outros, contribuirão para a saúde financeira familiar, além de diminuir a burocracia em momentos difíceis.